BRASILIA, LINHA RECTA E LINHA CURVA

Em representação do Senhor Bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal estive há dias em Brasília para participar no VIII Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa, que reuniu, por enquanto, os oito países que têm como idioma oficial a língua de camões.

Trata-se de uma reunião que pelos seus estatutos deve realizar-se anualmente e onde são apresentadas genericamente o panorama das políticas de saúde de cada país luso falante, as dificuldades com que se debatem, tendo em vista a ajuda de terceiros e ainda e sobretudo, os critérios da formação das diferentes especialidades médico cirúrgicas, bem como, a defesa da qualidade dos serviços prestados a nível hospitalar ou em ambiente rural.

Por ter sido a primeira vez, registe-se com notório agrado a participação do Dr. Juan Alberto Marques, representante da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa na martirizada Venezuela e também a presença do Dr. António Guterres, representante do longínquo Timor que dá os primeiros passos para a construção da sua Ordem dos Médicos até agora inexistente.

Para além deste breve registo que interessa certamente aos nossos colegas envolvidos na apaixonante prática da cooperação, deixo uma rápida visão sobre esta ainda jovem cidade capital do país irmão onde a cada passo nos confrontamos com o talento criativo do inesquecível arquitecto Oscar Nyemeier tão bem plasmado nos numerosos monumentos dos quais destaco desde logo a belíssima catedral de Nossa Senhora da Aparecida, com as suas colunas dirigidas ao alto quais mãos abertas suplicando uma prece, o Palácio do Planalto de linhas horizontais anunciando frescura e transparência onde trabalha o Presidente da República virado para a Praça dos 3 Poderes e donde se observam as duas bacias invertidas numa alusão ao espírito democrático e o Congresso Federal com as duas torres em forma de H. Faz ainda parte deste belíssimo conjunto de edifícios do estado brasileiro o Museu Nacional tão característico pela sua forma de caracol.

Embora a minha memória de adolescente me remeta para a figura do Presidente Juscelino Kusbichk, como mentor da construção de Brasília, era assim que a revista “cruzeiro” então muito popular entre nós nos anunciava, a verdade da história veio ao de cima com o testemunho documental de que fora o nosso Marquês de Pombal ainda em pleno século XVIII, a decidir a construção de uma cidade no planalto do interior brasileiro como forma expedita do desenvolvimento futuro deste grande país irmão.

Julgo que nenhum visitante ficará indiferente à beleza única desta cidade em forma de avião projectada por Lúcio Costa, mas embelezada pelas linhas do arquitecto Nyemeier que detestava a linha recta, dura e inflexível, criada pelo homem mas se deliciava com a beleza única da linha curva que lhe lembrava o traçado sinuoso dos rios do seu país, o recorte das montanhas no horizonte e a beleza infinda do corpo de uma mulher ou não fosse uma obra de Deus, o que para um ateu, não está nada mal!

José Manuel Pavão

Secretário permanente da Comunidade Médica de Língua Portuguesa