Em rodada de debates sobre a assistência à saúde em países lusófonos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recebeu, na quarta-feira (15), o embaixador e plenipotenciário da República
de Guiné-Bissau no Brasil, M’bala Alfredo Fernandes. Esse País é um dos integrantes da Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP), atualmente presidida pelo conselheiro Jeancarlo Cavalcante, que também é 1º vice-presidente do CFM.
Sociólogo e diplomata de carreira, M’bala destacou que na área da saúde há um cenário de precariedade extrema vivido pela população guineense, que não tem acesso a diagnósticos ou tratamentos médicos. “Apelo para que o CFM pense em formas possíveis para ajudar na melhoria do sistema de saúde de Guiné-Bissau. É um povo hospitaleiro e que necessita de assistência”, disse.
O apelo do embaixador foi acolhido pela autarquia brasileira. “Tudo que o CFM puder fazer para favorecer a melhoria da saúde em Guiné-Bissau, será feito”, afirmou o presidente do Conselho Federal, José Hiran Gallo.
Migração – M’bala relatou que há uma migração em massa e crônica de guineenses graduados em medicina. Segundo o embaixador, aqueles que se formam em outros países, não voltam a Guiné-Bissau, sendo a única exceção o ministro da saúde. Entre 1995 e 1998, o país formava de 10 a 15 médicos por ano. Mas, com a guerra em 1998, quase todos os médicos guineenses migraram principalmente para Portugal – país que possui mais médicos guineenses do que a própria Guiné.
“O custo de vida é muito baixo, com baixa remuneração profissional. A saúde continua em piores condições. E ninguém previa, por exemplo, que no Brasil haveria mais de 30 médicos guineenses. Pedimos ao governo brasileiro a cooperação para a formação de especialistas em várias áreas médicas, dando condições jurídicas e definindo critérios que auxiliem a Guiné a superar essa situação crítica de saúde”.
Dilza Ribeiro, conselheira federal pelo estado do Acre, trabalha com comunidades em regiões de fronteira se sensibilizou com as dificuldades expostas. “Eu trabalho na Amazônia e conheço situações compatíveis com as de Guiné-Bissau e nós, do CFM, podemos temos condições de ajudar”, afirmou.
Diretor do CFM, Carlos Magno Dalapicola também pontuou que “esteve na Guiné-Bissau e viu a precariedade para realizar até mesmo um simples exame de sangue. Acredito que o governo
brasileiro também pode auxiliar tecnicamente”.
ONGs – M’bala Alfredo Fernandes destacou que a Guiné-Bissau recebe ajuda de Organizações Não Governamentais (ONGs) principalmente europeias e que, em muitos casos, encaminha
seus pacientes para Portugal por não ter possibilidade de tratamento naquele país. Lembrou ainda que houve precariedade na luta contra a covid-19.
De acordo com o embaixador, a maior parte da população não reconhece o covid-19 como uma doença real e acredita que seus males podem ser prevenidos com ervas, frutos ou preparos caseiros. O país também não possui disponibilidade de vacinas para a população, que também resiste em recebê-la.
Guiné-Bissau é um país independente, de Língua Portuguesa, banhado pelo Oceano Atlântico e com 1,9 milhões de habitantes. É também um país multicultural formado por mais de 15 etnias, que convivem pacificamente, sem conflitos territoriais ou religiosos.