Representantes do Brasil, Moçambique e Portugal conduziram uma sessão de apresentações e debates sobre os desafios globais da saúde nos países que compõem a Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP). Foram abordadas as infecções viróticas emergentes e reemergentes, as doenças crônicas, as emergências em saúde pública e as tecnologias em saúde.
Ao comentarem os temas infecções viróticas, doenças crônicas e emergências, os palestrantes enfatizaram o papel dos sistemas de saúde em países em desenvolvimento como o Brasil. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e médico especialista em Infectologia e Alergia e Imunologia, Dirceu Greco, apontou a necessidade, ante as ameaças de epidemias globais e desassistência, de informação e educação, vontade política em contextos de recursos escassos e ambiente social adequado – além de um SUS fortalecido, no caso do Brasil. Para ele, infelizmente, a mudança do ambiente social é um item, “raramente discutido”. “Necessitamos de modificações globais para diminuirmos as obscenas disparidades”, diz o professor.
Para o professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Milton de Arruda Martins, os países precisam identificar e quantificar o peso de cada doença – para além dos tradicionais padrões de incidência, prevalência e mortalidade – para traçarem seus processos de decisão e planejamento em saúde. Um exemplo é o grupo multinacional Global Burden of Disease. Os estudos desse grupo mostram o peso, no Brasil, da violência interpessoal e acidentes de trânsito como gravíssimos problemas de saúde pública e com forte impacto sobre os anos vividos com incapacidade por seus doentes.
Essas demandas de violência urbana e acidentes impactam gravemente o Sistema Único de Saúde (SUS), como aponta o 1º vice-presidente do CFM e professor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), Mauro Luiz de Britto Ribeiro. Ele usa sua experiência como cirurgião-geral da Santa Casa de Campo Grande e emergencista do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul para apontar os enormes desafios do SUS, sem deixar de mencionar importantes conquistas, como o SAMU. “O SAMU foi uma importante conquista, mas faltaram medidas estruturantes”, diz.
O conselheiro aponta ainda que muitas falhas nos três níveis de atenção acabam impactando no sistema hospitalar. Mesmo na Rede de Atenção às Urgências, que prevê componentes e interfaces (de promoção e prevenção, sala de estabilização, Força Nacional do SUS, SAMU, UPA 24h, hospital e atenção domiciliar), muitas lacunas acabam sobrecarregando os hospitais, que “não têm estrutura física, profissionais, leitos e centros cirúrgicos, por exemplo, para atender à demanda que explode em suas portas, e os pacientes acabam morrendo por causas evitáveis”.
Outro problema que afeta os cuidados médicos é a comunicação em saúde, segundo a professora da Universidade do Porto, Daniela Seixas. Para ela, que é cofundadora do aplicativo Tonic App, os médicos querem melhorar a qualidade e a eficiência dos cuidados, além de informação e educação. Ferramentas de comunicação são, “inclusive, instrumentos para potencializar sinergias da Comunidade Médica de Língua Portuguesa”, aponta. As novas ferramentas tecnológicas têm, assim, potencial de oferecer um ambiente colaborativo, de interação e troca de experiências.
Participaram ainda, como presidente e secretária da mesa, o bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique, António Eugénio Zacarias, e a diretora da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau, Filomena Maria Alves Ribeiro Laia McGuire.
As atividades do VIII Congresso continuam até o próximo sábado (6). Confira a programação em: http://www.cmlp.cfm.org.br